- Por Laura Carvalho
- Publicado 4 anos atrás
Este Verão, a aliança Coolproducts, de que a Quercus é membro, vai lançar uma campanha com o objetivo de sensibilizar os consumidores para o facto de que os aparelhos de ar condicionado portáteis desperdiçam energia. Paralelamente, esta campanha irá solicitar aos decisores políticos, incluindo os nacionais, para ajudarem os consumidores a fazer escolhas informadas no que diz respeito aos aparelhos de climatização.
Pedimos à Comissão Europeia (CE) para:
-Criar uma etiqueta energética única para todos os aparelhos de ar condicionado.
-Promover ativamente o uso de fluidos refrigerantes com menor impacte climático.
-Introduzir requisitos técnicos para que estes aparelhos durem mais tempo e que os fabricantes sejam obrigados a disponibilizar peças de substituição durante um período mínimo de 12 anos.
Apenas aproximando os decisores políticos das necessidades dos cidadãos é possível garantir o uso das melhores tecnologias disponíveis para refrescar as nossas casas, durante os Verões cada vez mais quentes. É possível dizer adeus aos aparelhos de ar condicionado portáteis ineficientes. Vamos a isso!
Quanto mais tentamos arrefecê-lo, mais quente se tornará o nosso planeta
Todos os Verões as temperaturas batem recordes e os fabricantes de aparelhos de ar condicionado esfregam as mãos de contentes. Até 2050, a IEA (Agência Internacional de Energia) prevê que se atinjam 5,6 mil milhões de aparelhos no setor residencial, correspondendo a 2/3 das habitações, nível mundial, e muito acima dos 1,6 mil milhões de hoje. A China, Índia e Indonésia, em conjunto, deverão contabilizar metade do número total de unidades. Na União Europeia (UE), espera-se que o consumo de eletricidade pela utilização destes aparelhos aumente de 40 TWh para 62 TWh, em 2030, o equivalente a cinco vezes o consumo de eletricidade no setor doméstico, em Portugal.
Este crescimento excessivo traduz-se numa séria ameaça devido ao aumento das emissões de gases com efeito de estufa associadas, as quais, por seu turno contribuirão, ainda mais, para a subida da temperatura no planeta. A boa notícia é que podemos reduzir essas emissões enquanto nos mantemos frescos, se apostarmos em tecnologias energeticamente eficientes, antes que seja tarde demais.
O preço que o ambiente paga por uma compra impulsiva
Os aparelhos portáteis constituem o sistema de ar condicionado menos eficiente do mercado. No entanto, são muito populares, em especial durante as ondas de calor, dado que não é necessária uma instalação. Só na UE, mais de meio milhão de unidades foram vendidas em 2015, representando 14,2% do total de vendas de aparelhos de ar condicionado e, nalguns países, são vendidas mais unidades portáteis do que de parede. Nesse ano, em Portugal, mais de 6,5% das vendas de novos aparelhos corresponderam a unidades portáteis.
As estimativas indicam que, na UE, existem 4,3 milhões de unidades portáteis a arrefecer as nossas casas, quando as ondas de calor chegarem no Verão. Se estas forem desativadas, podemos evitar, todos os anos, a emissão de 0,35 milhões de toneladas de CO2 - equivalente a 200.000 voos de ida e volta entre Bruxelas e Nova Iorque.
De forma geral, o uso do aparelho de ar condicionado pode ser evitado, adotando medidas de climatização passiva, como manter as janelas e persianas ou cortinas fechadas durante o dia, ou recorrer a toldos e palas horizontais, entre outras. Caso não seja possível evitar a sua utilização, a instalação de uma unidade split de parede ajudará a diminuir o consumo de energia. Através da informação disponibilizada pelo projeto HACKS, os consumidores podem fazer uma escolha mais eficiente.
É necessária uma etiqueta única para os diferentes sistemas de ar condicionado
A etiqueta energética, criada pela UE para ajudar os consumidores a fazer as melhores escolhas para a carteira e para o planeta, não funciona no caso dos aparelhos de ar condicionado porque as etiquetas dos modelos portáteis não são comparáveis às unidades de parede.
De facto, para arrefecer a mesma área, um modelo portátil de classe A+ consome 2,4 vezes mais eletricidade do que um modelo A+ de parede. A ineficiência dos aparelhos portáteis deve-se ao seu design. Qualquer sistema de ar condicionado tem peças que aquecem para poder arrefecer o ar. No caso dos modelos portáteis, essas peças permanecem no interior do espaço que é arrefecido, aumentando a sua temperatura, enquanto as unidades de parede têm essas peças no exterior. Adicionalmente, as unidades portáteis sugam parte deste ar fresco que elas mesmo produzem, diminuindo a pressão do ar interior, e fazendo com que o ar quente do exterior migre para o espaço interior.
Por isso, a CE tem que agir o quanto antes. A oportunidade apresenta-se agora, no momento em que a Comissão CE está a rever as regras para estes aparelhos, incluindo a proposta de atualizar o presente Regulamento de Etiquetagem Energética e introduzir uma etiqueta energética única em 2021.
E aproveitando a ocasião, vamos acabar com os gases fluorados
Para arrefecer os espaços interiores, os sistemas de ar condicionado usam fluidos refrigerantes, que sempre foram muito problemáticos para o nosso ambiente. Os gases fluorados sintéticos (F-gases) não constituem um perigo para a camada de ozono, como era o caso dos CFC's, mas ainda assim têm um elevado potencial de aquecimento global, chegando a ser 2000 vezes superior ao CO2. Contudo, há alternativas com baixo impacte climático, como o propano e o CO2 e, pesquisas recentes demonstraram ser segura a sua utilização.
Infelizmente, a Comissão eliminou a referência aos refrigerantes na última versão do Regulamento de Conceção Ecológica dos aparelhos de ar condicionado. Por isso, apelamos aos legisladores para a incluir, pois tal enviaria ao mercado um sinal evidente de apoio às alternativas mais ecológicas.
Direito à reparação... dos AC!
Adicionalmente, os aparelhos de ar condicionado são difíceis de reparar, desmantelar e fazer a manutenção. Isto traduz-se em reduzidos tempos de vida útil dos aparelhos, bem como fugas de gases refrigerantes devido às desadequadas intervenções de reparação.
Para lidar com este problema, a CE deve exigir aos fabricantes que produzam aparelhos facilmente reparáveis e que forneçam uma maior disponibilidade de peças de substituição. Só assim os aparelhos terão maior durabilidade, reduzindo o seu impacte negativo no planeta.